12 novembro 2016

Histórias do anoitecer XXXIII







Se tu soubesses o que o meu coração encerra. Pudera migrar de corpo e chegar junto do teu mundo noutra idade, como se o tempo parasse só para nos ver entreolhar. Quantos sorrisos estão atrás da aparência sóbria. E porquê? Porque somos atores representando o papel que a sociedade espera de nós, como condição para sobrevivermos no emaranhado das relações pessoais. A maior traição que existe é aquela que fazemos a nós próprios.
Todo o desejo deverá ter satisfação? Não, a maior parte são fantasias, que existem só para alegrar os neurónios e libertar a serotonina ou afins. Criamos, no nosso imaginário, a situação ideal. Deveríamos saber que, mais das vezes, o ser humano toma “más” decisões. Vivemos iludidos com “certezas” e vontades, que não fazem sentido à luz de uma análise mais fina, confrontando a felicidade. Cremos, muitas vezes, que é o ter que nos faria felizes, quando sabemos que não se “tem” felicidade”, mas se “é” feliz. E esta sensação dura tanto quanto mais nos desprendermos do que se tem ou se pensa necessitar.
Continuo a imaginar o que seriam todas as vidas que poderia ter. Não há cenários perfeitos. A experiência mostra-nos que o desenvolvimento das individualidades, malgrado seja estimulante, não deixa de ser a escolha de caminhos de solidão. Sermos nós próprios e o outro será o caminho, há muito recomendado, para que percebamos que podemos (e somos) ser todos um.