19 agosto 2017

Histórias do Anoitecer LIII

Sinto o corpo esquartejado pelo amor. Dividido, sofrido, incompreendido, desejado, mal-amado e, acima de tudo, fora do tempo, sempre.
Já fui flagelado, coroado de espinhos e crucificado. Não como o corpo de Cristo, obviamente, mas na alma. Um verdadeiro cana-verde.
Nunca recebi quanto dei. Provavelmente, houve muitas vezes que não dei. Mas não tinha de dar. Não posso ser culpado de não amar. Mas sou culpado de amar, e por isso sofro.
Possam as lágrimas que verti construírem um novo rio. Uma nascente pura, sem toda a mácula que a vida nos vai pincelando. Não preciso de desejar ser inocente, porque o fui. Não preciso de desejar ser culpado, porque o fui. Preciso é de redenção, não porque tenha feito mal a alguém, dolosamente, mas porque sou culpado e vítima do amor.
Já morri várias vezes. Quero renascer num mundo novo…

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