25 agosto 2012

Naufrágio


Destroço a boiar em águas selvagens,
retranca de mastro caído em naufrágio,
velas rasgadas pela infâmia do mundo.
Quisera eu partir noutras viagens,
e acabei só, em processo autofágico,
até que tudo morra bem lá no fundo…

De mão estendida fora de água,
esperava a bóia que não existia
ao redor do cais sem ninguém…
Até quando irá durar a mágoa
pelo amor que em tudo mentia,
por ver nos olhos tanto desdém?

Tantas vezes morto em combate
por quem não queria ser salvo,
que me esqueci… de mim.
Não vi o magarefe preparar o abate,
mas persenti que seria o alvo,
e que morreria só… assim…

Vejo o esgar do mal esperando,
que se possa consumar a vingança
por continuar a defender o amor.
Mas o anjo, que vai velando,
não deixa morrer em mim a esperança
e acredita que ultrapassarei a dor…

Gritei por nós ao vento e à maré,
com força e coragem inauditas,
que só a alma consegue atingir.
Não fora eu ter a graça da fé,
e não acreditaria que são benditas
todas as feridas que estou a sentir.

Não, não sou um bandido
por quem se apaixonam as mulheres
para exercitar o arrependimento.
Sou ninguém, desconhecido,
e, quando de mim souberes,

já morri e espero o renascimento.

3 comentários:

Lídia Borges disse...


Uma fuga para dentro na convulsão das águas.

Lídia

Sílvia Mota Lopes disse...

Subscrevo:)
parabéns!

Anónimo disse...

Muito bonito...