08 outubro 2005

Teoria operacional dos afectos

O nosso comportamento em termos de afectos permite que nos dividamos em quatro categorias, que estão relacionadas com as operações algébricas. Obviamente, este texto pretende, tão somente, que pensemos nos nossos comportamentos. Assim, temos:
1 – Os subtractores caracterizam-se por substituirem afectos: se o afecto aumenta por alguém, então diminui por outro. Procuram também subtrair o afecto dos outros, criando situações de chantagem emocional: “ou gostas de mim ou do outro”; “tens de gostar mais de mim do que dele”. Exigem exclusividade afectiva. Será que aqui se encontra o amor sexuado, na maior parte dos casos?
2 – Os divisores caracterizam-se por dividir os afectos. Utilizam uma lógica de total a dividir pelas partes. Mantêm-se presos a grupos pequenos de amigos, familiares e amante, esperando que estes também dividam o seu afecto consigo. Os seus afectos podem ser fiéis, mas não têm a intensidade dos subtractores. Será que aqui se encontram as pessoas que mais se isolam?
3 – Os aditivos procuram somar afectos. Têm tendência a partilhar os afectos dum ponto de vista incremental: quantos mais melhor. Querem afeição mas também retribuem do mesmo modo. São muitas vezes egoístas, tendo uma relação passiva quanto aos afectos entre os outros, não se preocupando com aquilo que não lhe diga directamente respeito. Será que aqui temos os predadores?
4 – Os multiplicadores patrocinam a dispersão dos afectos por um número crescente de pessoas, criando cada vez mais ligações entre estas. Têm uma postura activa de crescimento do património afectivo do grupo. São capazes de amar, de fazer amar e de serem felizes com a felicidade dos outros. Podem chegar ao sacrifício individual, caso seja o melhor para quem amam intensamente. Será que aqui estão os verdadeiros amantes?

Escrito em 24 de Fevereiro de 2004 – Dia de Carnaval

(é favor criticar à vontade… Isto dava para construir um daqueles inquéritos psicológicos, como aparecem nas revistas, mas como nada há aqui de científico, fico-me pela provocação.)

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Lúcia
Também o és. Conseguimos mostrar aqui o melhor de nós, o que é uma vantagem :).

Liliane
Poderás estar no vazio, mas não és vazia, tens muito de ti, que guardas. Contudo, ninguém fica no vazio para sempre… acredita.

Lualil
Toque de seda…

Delírio
E não é que estou viciado nesta música…

Paola
Serei diferente, enigmático? Não sei…
Ser capaz de lutar, como tu o fazes, é muito importante. E continuas a não passar despecebida J.
Sobre o amor, de que falas, faço neste post uma reflexão. Temos vários níveis de amor, desde uma afeição de características sociais, passando por amizades mais ou menos profundas, amores platónicos e amores sexuados, que inclusive chegam à obsessão. Claro que nós não precisamos de rótulos… amar é tudo, como dizes.
O que não contas, ninguém sabe :).

Viúva Negra
Sim, continua…
Ouço a tua gargalhada, apagando esses traços tristes…

Isa Xana
Obrigado, Isa. As palavras aparecem para ajudar a preencher esse vazio.
Espero que consigas entrar na universidade… é algo novo, que será muito importante para ti.

Ana Raquel
Sim, actuamos em diferentes palcos, assumindo diferentes papéis sociais. Mas o nosso eu mais interior continua palpitante atrás de todas essas capas, defesas e apresentações em que nos refugiamos para sobreviver. Infelizmente, não nos é dado conhecer a finalidade de cada vida. A aleatoriedade de cada percurso, aliada à contingência de cada vida que cruzamos, permite manter um mistério, que nunca desvendaremos neste mundo.

Polegar
Obrigado. Por que escolheste esse nome? Surgem-me várias explicações… se quiseres desvendar alguma coisa, gostaria de saber :).

Cristina
Obter prazer em “estar” com alguém, já vale a pena. Eu diria que estamos sempre a mudar, ajustando-nos às diversas conjunturas da vida, mas mantendo sempre tudo o que é estrutural em nós. Gostar do que é subjacente a uma pessoa e das suas diversas faces, é um exercício de amor para a vida, que não é de todo fácil.

Vanda
A música é da Katie Melua. Obrigado também pelas tuas palavras simpáticas.

M.
Não é assim tão impossível J, até porque posso estar num centro muito solitário. Mas, quando acompanhado, diria que é improvável que o vazio dure.

Ana
As tuas palavras, que parece quereres a medo libertar, também encerram uma sensibilidade muito grande.

Isabel & C.
Tenho apagado os posts para tornar o blog mais leve. Pena não teres tido hipótese de ver outras fases dos Humores, mas espero continuar e voltar a passar por baixo das mesmas pontes. A evaporação já se deu, juntar-me-ei a uma nuvem e breve serei soprado para terra…
Somos fãs da matemática… :)

Su
Gosto de te ter aqui e, com certeza, de jocas maradas :).

Lique
Pois não, Lique. Eu luto contra tudo o que seja cêntrico, seja ego, etno, etc.
E sei que nem sempre o caminho fácil é o melhor. Obrigado pelas tuas palavras.

Aislin
Quando se consegue que os que nos lêem consigam de alguma forma rever-se no que escrevemos, então é porque atingimos o seu coração, a sua mente, a sua alma. Eu fico muito feliz com isso. Eu não escrevo só para mim…

Orfeu
Obrigado pelo elogio. É daqueles que nos enchem o ego até transbordar… e que também mostram a grandeza de quem os faz.

Milamy
Sempre busco algo novo, mas sei que não vivo tudo aquilo que a vida me oferece. Temos que aprender a fazer concessões, caso contrário poderia ter todos os caprichos e fantasias satisfeitos, perdendo aquilo que é realmente importante e que permanece, como, por exemplo, um verdadeiro amor.
Tens sido uma companhia muito carinhosa, obrigado.

12 comentários:

Anónimo disse...

mas que provacação :))))
olha eu tenho um pouco de tudo isso, como hei-de explicar??
sou exclusivista qdo me dou.
o meu afecto é fiel e intenso. tento somar afectos, acredito na amizade eterna, sem limites.
enfim, gosto de gostar e de ser gostada e entendo por gostar a forma lusa de amar
...e sou tudo isto e muito mais!!
jocas maradas

Å®t Øf £övë disse...

Daniel,
Gostei de ver esta forma imaginativa como dividiste os afectos.
Não sei se serão os mais correctos, ou as unicas divisões possiveis, mas pelo menos é uma divisão coerente.
Eu não sou muito bom para auto-analises, mas se quiser fazer uma a mim mesmo talvez me inclua entre o terceiro e o quarto grupo.
Bom fds.
Abraço.

Anónimo disse...

Centro-me apenas no final da história, apenas para dizer que no meu conceito de amantes, eles existem apenas, como tal não há verdadeiros ou falsos amantes.

Bom fim de semana,melhor entrada na semana que por aí vem.

Beijo
Lina

Anónimo disse...

O amor é simplesmente uma entrega.

Dar para receber sem intenção alguma.

O HOmem que estraga tudo com jogo de interesse.

O amor é a entrega para uma conquista mútua...

Anónimo disse...

O amor é simplesmente uma entrega.

Dar para receber sem intenção alguma.

O HOmem que estraga tudo com jogo de interesse.

O amor é a entrega para uma conquista mútua...

Leonor disse...

gostaria de pensar que sou uma multiplicadora... mas ánalisando friamente, será que sou uma aditiva e por conseguinte uma predadora?
de qualquer modo o artigo está excelente em termos cientificos.
abraço da leonor

Anónimo disse...

hummm faltam aí os "gatos escaldados".
Os que se fecham em si e vao observando quem se aproxima...que se vao chegando a eles lentamente e vao tentando descobrir se podem esticar a mao, que a encolhem ao 1º sinal de algo errado ou k lhes desagrade, e que quando finalmente se dão..se dão por completo..com tudo o que existe e nao existe neles para ser dado.
bem..estes têm mt pra ser dito...mas acho k o principal está aí :P

Raquel Vasconcelos disse...

Considero que o 3 e o 4 são filhos da mesma virtude/defeito. Retira-lhes a palavra predador. Más notícias: os predadores não se incluem em grupo algum... pq não desejam afectos.
Estarás talvez a confundir os carentes com predadores. E entre eles há formas diferentes de ser.
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Existe ainda um seguemento terrível, que não sei que nome chamar-lhes... aqueles que para não perderem afectos dividem, de forma brutal, para reinar (a todo custo). Fazem-no a nível familiar, passional e até profissional. Chegam a ser patológicos mas deambulam entre nós discretamente... Quem lhes cai nas garras (ou já nasce nelas) poderá vir a tornar-se igual ou a sofrer profundamente.


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Sobre "a minha" resposta
O que tu chamas de mistério, chamo de educação, genética, sociedade... são-nos impostos padrões que seguimos.
No entanto os gémeos realmente podem ter percursos diferentes. O que indica q há algo mais que ainda não descobrimos.
Acho que não terá que ser obrigatoriamente algo a ser sabido "depois".
Porque "depois" existirão certamente regras/liberdades profundamente diferentes daquelas pelas quais nos regemos por aqui...
O ser humano, enquanto ser humano, é que terá que saber chegar ao seu âmago. Alguns são capazes. Serão os restantes?

Quando penso que posso mandar a sociedade plantar couves, surge sempre algo que me prova que mais uma vez tenho que ter algum cuidado... ainda não chegou a altura certa. Chegará?


(Caramba homem... com posts assim e mais as respostas... uma pessoa escreve q se farta...)


Bj

Anónimo disse...

Peço a Deus que me seja dada a graça de um dia estar entre os multiplicadores. Mas parece que ainda falta tanto. É um longo caminho.
Beijos, carinho.

Mitsou disse...

A tua originalidade já não me espanta. Encanta-me. Ainda vou reler o post, depois de comentar, entretendo-me a descobrir exemplos meus conhecidos que se enquadrem nas quatro operações. Genial, Daniel. Um beijinho doce e votos de óptima semana.

I disse...

Daniel penso que pertenço a um dos quadrantes mas, por prudência (leia-se "vergonha")não o explicitei. É que, por muito bem que me julgue conhecer , dou-me sempre uma margem para o benefício da dúvida .Será que sou como julgo ser?Será que , quem me conhece e comigo priva, me vê como eu sou?Isto dito assim parece complexo...mas, para contrabalançar , deixo uma frase simples: Obrigada pelas tuas sempre tão amáveis palavras. São palavras aladas.

Laura Antunes disse...

Hummm, agora já sei o que é um multiplicador...Olha que coisa !!!