Encontrei uma pérola perdida no fundo do mar.
Estirei-me de forma a poder apanhá-la, mas ela brincou-me
com os dedos, e saltou para mais longe um pouco. No entanto, o nanossegundo em
que a senti na mão, permitiu que soubesse que tinha estado muito tempo numa
concha, acreditando que aquele lugar deveria ser defendido para sempre.
Voltei a tentar chegar-me a ela e, mais uma vez, seguiu na
corrente, e só a toquei ao de leve. E agora vi como ela se perdeu da concha,
juntando lágrimas doces ao mar salgado, imaginando um sofrimento que sentia,
mas que lhe mostrava um caminho de mudança, que ela depois soube ser necessário.
Deixei de tentar agarrá-la, e apreciei a forma como
saltitava entre as areias e bivalves que tapeteavam o leito iluminado pelo sol da
manhã. Como se experimentasse novos lugares de incrustação numa jóia… sim,
porque ela sentia que seria o seu lugar, mas a fragilidade do meio em que
evoluiu nunca lhe mostrou um lugar que fosse sentido como certo.
Talvez volte amanhã, e se ela ainda por aqui estiver,
abrirei as mãos e o coração para acolhê-la, sabendo que as ondas serão minhas
cúmplices, e que conseguirei que ela veja o mundo da terra em que vivemos.
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