10 julho 2017

Histórias do Anoitecer XLV

Um dia retirarei as espoletas das granadas que me contornam a mente.
O sor(riso) de hoje emudeceu. Quisera gritar o porquê… mas tudo indica que é só mais um passo na direção do cadafalso.
Nesta prisão perpétua que não me deixa ver o sol, respirar o ar livre, ou mesmo adormecer.
Sei o que é o suplício de Tântalo, desde muito novo. Quem assim me fadou, queria que eu sofresse, porventura pagando a dor de outrem. Tudo o que conto e imagino são construções hiperbólicas sobre uma realidade que me traz de joelhos. Não posso sangrar mais, pois tudo se esvaiu de mim. Sou um espectro seco, qual múmia de um antepassado atribulado.
Mais um esforço para que tudo pareça bem neste teatro da vida, vazia, sem qualquer fundamento. Continuarei, imparável, a produzir o bem que a todos faz falta, como se fora um Scaramouche ou um Cyrano de Bergerac, que com o seu verbo apaixona, mas que tem de se esconder do amor, por ser feio e rejeitado.
E, no desatino da ária mais triste, ou ouvindo o Adágio para cordas de Samuel Barber, chego ao fim de mais um dia.

Sem comentários: